top of page

I Domingo do Advento: no aguardo do Senhor



Entramos no tempo do Advento. Adventus, palavra latina que, com justeza, poderíamos traduzir como “chegada”, “presença”, “vinda”. O Senhor está para chegar. A sua chegada insere o mundo temporal (chronos) no tempo de Deus (kairós = tempo de graça). Ao assumir a nossa natureza, tomando um corpo na Encarnação, o Senhor dos tempos e da eternidade se sujeita à nossa condição. No mundo antigo e pagão, o termo Advento era uma palavra técnica que designava a chegada de um funcionário, ou mesmo a visita de reis e imperadores aos seus domínios, ou ainda a chegada de um deus que saía da sua divinal mansão oculta para manifestar o seu poder. Cristianizamos todas essas práticas, pois o “Esperado das nações” se coloca, em suas parábolas, não como um funcionário, mas como patrão, como rei que dominará a terra. Ele, que é Deus e veio manifestar a sua onipotência através da sua misericórdia e do seu poder salvador a toda humanidade.


Ao celebrarmos este tempo forte na espiritualidade litúrgica da Igreja, constantemente diremos: “Vem, Senhor Jesus!”. Assim, recordamos a primeira vinda do Senhor, “revestido da nossa fragilidade […] para realizar seu eterno plano de amor e abrir-nos o caminho da salvação” (Prefácio do Advento I), ao tempo em que esperamos a sua volta, quando, “revestido de sua glória, ele virá uma segunda vez para conceder-nos em plenitude os bens prometidos que hoje, vigilantes, esperamos” (Ibidem).


Outra palavra que, a partir do Evangelho de hoje (cf. Mc 13,33-37), de sobremaneira nos norteará é “Vigiai!”. Ao se dirigir aos seus discípulos e recomendar-lhes cautela e vigilância, Jesus se dirige a toda a sua Igreja. Desde quando o Senhor ascendeu, a Igreja espera a sua volta gloriosa. Não sabemos quando será. Por isso, a Igreja-Esposa espera fielmente, ao tempo em que implora: “Vinde, não tardeis!”.


A Igreja é consciente de que ela é serva, não senhora, embora seja Esposa que anseia fortemente pelo seu Amado. Jesus, ao contar esta parábola que ouvimos no Evangelho, figura esta realidade. Ele é um homem (logicamente, um patrão) que confia a sua casa à responsabilidade de empregados, dando-lhes incumbências determinadas. Se ele é este patrão, nós, Igreja, somos esses empregados porque participamos do Corpo Místico do Senhor. Cada um de nós temos a nossa tarefa, pois a Igreja, Casa de Deus, possui inúmeros postos vagos.


“E mandou o porteiro ficar vigiando” (Mc 13,34). Quem é este porteiro senão o múnus profético da Igreja nos seus pregadores? Assim como o porteiro deve estar atento aos mínimos sinais em sua guarita, os pregadores devem estar atentos aos possíveis sinais da vinda do Senhor.


O Senhor virá. Quando? "Quanto àquele dia e àquela hora, ninguém o sabe, nem mesmo os anjos do céu, mas somente o Pai". (Mt 24,36). Por isso, estejamos na mais acurada atenção, para não nos encontrarmos dormindo no maldito “relaxamento” do pecado. Por isso, este tempo de Advento é um convite a um despertar contínuo. Se estivermos na madorna do pecado, levantemo-nos! Despertemo-nos! Estas atitudes são sinais palpáveis de um assaz vigilante. Daí, a Oração de Coleta suplicar: “Ó Deus todo-poderoso, concedei a vossos fiéis o ardente desejo de possuir o reino celeste, para que, acorrendo com as nossas boas obras ao encontro de Cristo que vem, sejamos reunidos à sua direita na comunidade dos justos”. As nossas obras identificam o nosso torpor ou a nossa altiva vigilância.


Na Primeira Leitura, temos o profeta Isaías que coloca na boca do povo um clamor ao Senhor, bem como um grito de esperança: Deus vai salvar-nos! Ora, esta passagem do profeta se relaciona ao Exílio da Babilônia. O povo de Israel estava escravo. Porém, antes mesmo de ser servil com o seu corpo, Israel já o era interiormente, pelo pecado. Isaías escreve o exame de consciência de Israel (cf. Is 64,3.4). O povo espera pela libertação integral que somente Deus pode dar, pois o rosto do Salvador de Israel é o de um pai terno e misericordioso (cf. 63,16b). Assim, como o Antigo Israel também aconteceu conosco: éramos escravos do pecado; gemíamos sob o seu jugo; estávamos mortos. Paternalmente, Deus Se compadeceu de nós e, na Pessoa do Filho, quebrou as nossas algemas, não com manifestações violentas de seu poder, mas com a ternura de uma criança, sujeito às limitações de criatura, porque assim o quis. Não porque merecêssemos, mas vem ao nosso encontro por livre iniciativa. Redimiu-nos, desmanchando as montanhas do pecado, derretendo-o completamente. Calcou o opressor que nos oprimia. Tudo isso iniciou quando Deus nos mostrou a Sua face (cf. Sl 79,4).


Que a vivência do duplo Advento do Senhor (a espera litúrgica do Filho de Deus Humanado e do Senhor da Glória que nos virá nos fins dos tempos) nos auxilie, a fim de que, dispostos ao seu plano de amor, estejamos atentos ao Cristo que nos vem em suas diversas formas, inclusive nos irmãos.


Padre Everson Fontes Fonseca, pároco da paróquia Sagrado Coração de Jesus, Grageru.

Comments


Brasão_Arquidiocese__de_Aracaju_2019.png

Arquidiocese 

aracaju

de

 Arquidiocese de Aracaju

CNPJ: 13.043.021/0001

Curia Metropolitana

 

Praça Olímpio Campos, 228, Centro

Aracaju/SE - CEP: 49010-040

  • Whatsapp
  • Instagram
  • Facebook ícone social
  • YouTube
Siga-nos nas redes sociais.
bottom of page