O Espírito Santo e o tempo da Igreja
- Pe. Everson Fonseca
- 27 de mai. de 2023
- 3 min de leitura

Pentecostes é um dia bastante especial, pois foi quando o Filho, cumprindo a Sua promessa, juntamente com o Pai, enviou o Espírito Santo como presença viva e atuante de Deus em Sua Igreja. Assim, podemos refletir sobre a relação entre o Espírito de Deus e a Igreja.
"O Espírito sopra onde quer" (Jo 3,8). É com esta afirmativa do Senhor a Nicodemos que me vem à mente a bonita imagem do vento e da barca à vela, tão arraigada na tradição cristã como retrato do Espírito que conduz a Igreja de Cristo, soprando nas velas da sua história, pelo oceano agitado do mundo, até o porto da eternidade feliz da Pátria celestial. O luminoso Papa Bento XVI, certa feita, afirmou que a grande prova de que a Igreja é divina e, portanto, guiada pelo Espírito Santo, é que os homens, com os seus pecados, nunca a destruíram.
Entretanto, de uma maneira mais estreita, resgato o que o Papa São João Paulo II, em 18 de maio de 1986, na Encíclica Dominus et Vivificantem, aclara sobre esta realidade de ligação bastante evidente entre o Paráclito e a Esposa do Cordeiro, a Santa Igreja Católica. E o Papa, observando a motivação de Deus para o envio do Espírito Santo, pontuará que, "no dia do Pentecostes foi enviado o Espírito Santo para santificar continuamente a Igreja, e, assim, os que viessem a acreditar tivessem, mediante Cristo, acesso ao Pai num só Espírito (cf. Ef 2,18)" (Dominus et Vivificantem, 25). Desta forma, santificando a Igreja, os filhos da "Senhora eleita" (2Jo,1) ingressam, desde o tempo presente, pela graça batismal e pela experiência da Igreja, na vida divina.
Reprisou: Pentecostes é um dia bastante especial, porque "este acontecimento constitui a manifestação definitiva daquilo que já se tinha realizado no mesmo Cenáculo no Domingo da Páscoa. Cristo Ressuscitado veio e foi 'portador' do Espírito Santo para os Apóstolos. Deu-lho dizendo: 'Recebei o Espírito Santo'. Isso que aconteceu então no interior do Cenáculo, 'estando as portas fechadas', mais tarde, no dia do Pentecostes, viria a manifestar-se publicamente diante dos homens. Abrem-se as portas do Cenáculo e os Apóstolos dirigem-se aos habitantes e peregrinos, que tinham vindo a Jerusalém por ocasião da festa, para dar testemunho de Cristo com o poder do Espírito Santo. E assim se realiza o anúncio de Jesus: 'Ele dará testemunho de mim: e também vós dareis testemunho de mim, porque estivestes comigo desde o princípio' (Jo 15,26s.)" (Dominus et Vivificantem, 25).
Pelo derramamento do Espírito em línguas de fogo, "a Igreja apareceu publicamente diante da multidão e teve o seu início a difusão do Evangelho entre os pagãos, através da pregação" (AG 4). É o tempo da Igreja. A partir daquele Dom, verifica-se a vivacidade do anúncio e da vivência da fé católica, passando aos nossos dias até a consumação dos séculos, ingressando na plenitude da glória, porque, para esta glória, com a Sua luz certa e invisível, orienta-nos o Espírito de modo perceptível. E a Igreja, nos seus pastores e fiéis, vai cumprindo a missão que lhe foi outorgada pelo seu Fundador e da qual é continuadora. E, pela imposição das mãos nos sacramentos da Ordem e da Confirmação, "se perpetua na Igreja de certo modo, a graça do Pentecostes" (Dominus et Vivificantem, 25).
O Espírito Santo, ensina-nos o Concílio Vaticano II na Lumen Gentium, inspirando-se na tradição bíblico-patrística, "habita na Igreja e nos corações dos fiéis como num templo (cf. 1Cor 3,16; 6,19); e neles ora e dá testemunho da sua adoção filial (cf. Gl 4,6; Rm 8,15-16.26). Ele introduz a Igreja no conhecimento de toda a verdade (cf. Jo 16,13), unifica-a na comunhão e no ministério, edifica-a e dirige-a com os diversos dons hierárquicos e carismáticos e enriquece-a com os seus frutos (cf. Ef 4,11-12; 1Cor 12,4; Gl 5,22). Faz ainda com que a Igreja se mantenha sempre jovem, com a força do Evangelho, renova-a continuamente e leva-a à perfeita união com o seu Esposo" (n. 4). Eis, de forma resumida, a Sua ação indispensável e contínua na vida da Igreja, porque é a sua alma, movendo-a e provendo-a em todos os tempos, principalmente nos mais difíceis, tal como estes que estamos a atravessar, marcados pelo secularismo, indiferentismo e relativismo moral.
Sendo o Espírito Santo quem congrega, em Cristo para a glória do Pai, a humanidade, invoquemo-Lo constantemente, para que conceda à Igreja, que espera e deseja, os Seus sete dons, a plenitude da Sua unção.
Padre Everson Fontes Fonseca, pároco da Paróquia Sagrado Coração de Jesus (Grageru).
Comentários